Estou em Campinas.Não neva mas, é quase Natal.
Acho que foi Galeano que escreveu sobre o paradoxo do Natal...Jesus, um nazareno, de cabelos pretos, como outros judeus, seus irmãos, europeizado pelos comerciantes, que Ele mesmo expulsou do templo,é lembrado com neve,pinheirinhos e muitos presentes!
Em tempos de globalização, no nosso país, também comemoramos com pinheiros!
Nada contra, penso no Cristo, na manjedoura, como muitos meninos na fila, para nascer num hospital da rede pública...sem lugar para virem ao mundo.
Tristesas e melancolias à parte, estou otimista com o ano novo. Sei que Cristo olha por nós.
Transcrevo fragmento de um poema de Affonso Romano Sant'anna:
VAI, ANO VELHO
Vai,ano velho,vai de vez,
vai com tuas dívidas
e dúvidas,vai,dobra a ex-
quina da sorte, e no trinta e um,
à meia noite,esgota o copo
e a culpa do que nem me lembro
e me cravou entre janeiro e dezembro.
Vai,leva tudo:destroços,
ossos,fotos de presidentes,
beijos de atrizes,enchentes,
secas,suspiros,jornais.
Vade retrum,para trás,
leva pra escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
Não quero te ver mais,
só daqui a anos, nos anais,
nas fotos do nunca-mais.
Vem, Ano Novo,vem veloz,
vem em quadrigas,aladas,antigas
ou jatos de luz moderna,vem,
paira,desce,habita em nós[...]
vem com uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia,
e sacia em nós a fome
-de utopia.
(do livro Poesia Reunida-1965/1999)Vol.2
L&PM Pocket,2007.